para nossa comunidade

Qual a diferença entre verbo transitivo e intransitivo?

Verbo transitivo e intransitivo é um dos principais tópicos da sintaxe, parte da gramática que estuda as relações que se estabelecem entre os termos de uma oração e entre as orações de um texto. Portanto, conteúdo obrigatório para quem vai prestar o Enem e os vestibulares.

“O estudo da análise sintática auxilia no desenvolvimento da capacidade de interpretação de textos, em especial os de estrutura sintática mais complexa, pois a determinação da transitividade do verbo ou da classificação dos demais termos oracionais exige também uma interpretação do seu sentido na oração”, explica Eloy Souza, professor de Língua Portuguesa do Sistema Anglo de Ensino.

Ele acrescenta que, em situações em que se exige a expressão em norma culta ou a percepção de desvios de norma, a transitividade é de grande ajuda. “Ela é basilar para tópicos como vozes verbais, regência verbal, crase, pontuação e emprego de pronomes pessoais”, exemplifica.

Neste post, o professor responde às principais dúvidas sobre esse tema, incluindo os conceitos de transitividade, verbos transitivos e intransitivos, como identificar a transitividade de um verbo e como o tema é pedido nos vestibulares. Confira!

O que é transitividade?

A maioria dos verbos expressa algum significado extragramatical: ação (correr), estado (dormir), mudança de estado (derreter), fenômeno climático (chover), etc. Transitividade verbal é a classificação desses verbos quanto à completude desse significado e à decorrente necessidade ou não de um complemento.

Observação: os verbos destituídos de significado extragramatical são os verbos de ligação, que ligam um predicativo (atributo, qualidade ou estado) ao sujeito. Alguns verbos que podem ser empregados como de ligação são: ser, estar, continuar, andar, permanecer, parecer, viver, tornar-se.

O que são verbos transitivos e intransitivos?

Os verbos transitivos são aqueles possuem significado incompleto, requerendo um complemento (abaixo, os complementos estão sublinhados):

  • Os rapazes fizeram a prova.
  • A máquina imprimiu os cartazes.
  • O dia exigirá muito esforço.

Os verbos intransitivos são aqueles que possuem significado completo, não requerendo um complemento:

  • Os rapazes chegaram.
  • A máquina quebrou.
  • O dia acabou.

O que são verbos transitivos diretos e verbos transitivos indiretos?

A classificação dos verbos transitivos se dá conforme a relação estabelecida entre ele e o seu objeto – se existe ou não a necessidade de uma preposição.

Os verbos que não pedem preposição para se ligar ao seu complemento são chamados de transitivos diretos, e os seus complementos de objetos diretos:

  • Ele ama literatura.
  • Ambição desmedida acarreta frustração e prejuízo.

Os verbos que pedem preposição para se ligar ao seu complemento são chamados de transitivos indiretos, e os seus complementos de objetos indiretos. As preposições mais comuns neste caso são a, com, de, em, para e por.

  • Os grevistas aludiram ao último acordo.
  • Como não sonhar com dias melhores.
  • Ele gosta de literatura.
  • Não incorra de novo em tais erros.
  • A sorte acenou para você!
  • A providência zela por seu bem-estar.

O que é um verbo transitivo direto e indireto?

Um verbo transitivo direto e indireto é aquele que pede dois complementos, sendo um deles por meio de preposição. É bastante comum que com esses verbos o objeto direto seja o paciente do processo verbal e o indireto seja o seu destinatário. Neste caso, a preposição é “a “e, em alguns casos, também “para”:

  • Mostrou serviço ao chefe.
  • Servirá o melhor para os amigos.
  • Sempre lembra aos filhos o seu dever.

É possível se estabelecer com segurança a transitividade de um verbo fora de uma oração?

Não, pois muitos verbos têm mais de uma possibilidade de emprego. É a sua relação com os demais termos da oração e o sentido que advém disso que determinam a transitividade. Por exemplo:

  • Ele escreve bem. [verbo intransitivo]

Neste caso, o objetivo é avaliar o domínio de alguém sobre a prática da escrita, não interessando o tipo de texto ou a quem se destina. A palavra bem é um adjunto adverbial de modo.

  • Ele escreve romances policiais. [verbo transitivo direto]

Neste caso, “escrever” significa praticar um determinado gênero textual e, por isso, ele exige um objeto direto para tornar completo o seu sentido, explicitando esse gênero.

  • Ele sempre escreve aos pais. [verbo transitivo indireto]
  • Ele sempre escreve longos e-mails aos pais. [verbo transitivo direto e indireto]

Neste caso, “escrever” significa produzir um comunicado escrito para alguém, sendo apenas necessário indicar o destinatário (objeto indireto “aos pais”) para o verbo ter esse sentido. Caso se queira caracterizar o texto produzido, pode-se explicitá-lo como objeto direto (longos e-mails).

Como identificar a transitividade de um verbo?

A transitividade de um verbo decorre do seu sentido num dado contexto oracional e da presença de complementos (objeto direto e objeto indireto). Em frases de estrutura mais complexa, nem sempre é fácil identificar a transitividade. A presença do pronome se, a estrutura em voz passiva, a presença de termos oracionais – entre outros elementos – podem exigir conhecimentos específicos para cada situação.

Pode-se recorrer, contudo, num primeiro momento, ao procedimento da pergunta ao verbo. Ela permite que se perceba a transitividade mais característica de um verbo. Entretanto, ela tem que ser verificada na oração em que ele efetivamente ocorre.

É importante destacar que as perguntas só dão uma ideia inicial sobre o verbo. É preciso, portanto, testar esses resultados nas orações em que os verbos são efetivamente empregados, pois – como visto anteriormente – a predicação dependerá dos elementos com que o verbo se relaciona numa frase (o que, inclusive, determina o seu sentido).

  • Eles correram com determinação por todo o longo percurso.

Nessa frase, o verbo correr significa apenas deslocar-se no espaço, não havendo nenhum termo que possa ser complemento. Os termos “com determinação” e “por todo o longo percurso” são adjuntos adverbiais de modo e de lugar, respectivamente. Nada atende à pergunta: Eles correram o quê? Nesse caso, o verbo correr é intransitivo.

  • Eles correram com determinação a São Silvestre.

Aqui, correr significa participar de uma determinada competição de corrida e passa a exigir um objeto direto que indique essa competição. Agora a pergunta “eles correram o quê?” tem como resposta “a São Silvestre”, que é o objeto direto da oração. Nesse caso, o verbo correr é transitivo direto.

  • Apesar das decepções, ela amará de novo algum dia.
  • Você sofre, porque pensa demais.

Os verbos amar e pensar em muitas construções vêm acompanhados de complemento (Quem ama o feio, bonito lhe parece – verbo transitivo direto; Não pense mais nisso – verbo transitivo indireto). Contudo, nas frases acima, eles foram empregados como intransitivos. Isso porque a intenção é discorrer, de forma genérica, sobre o sentimento e o ato, não havendo necessidade de complementos. “Apesar das decepções”, “de novo”, “algum dia” e “demais” são todos adjuntos adverbiais, pois expressam, respectivamente, as circunstâncias de concessão, repetição, tempo e intensidade.

Não há resposta para a pergunta “ela amará o quê/quem?” ou “ele pensa em quê/quem?”. São, portanto, verbos intransitivos.

  • Ele gostou das frutas. (Ele achou boas as frutas.)
  • Ele gostou as frutas. (Ele provou as frutas.)

O verbo gostar é empregado quase que exclusivamente como transitivo indireto, regendo a preposição de. É o que ocorre na primeira frase, em que ele significa “achar bom sabor”. Na segunda, ele significa “provar” e é transitivo direto. Trata-se de um emprego pouco usado hoje em dia, mas presente em autores como Machado de Assis.

  • Só isso não , precisamos de mais recursos
  • Ela deu à luz pela manhã.
  • Deu à luz uma linda criança.

Na primeira frase, o verbo “dar” significa “ser suficiente” e é intransitivo. Nas duas outras frases, ele significa “parir”. Neste caso, ele tem que vir acompanhado do objeto indireto “à luz”, podendo haver ainda um objeto direto. Consequentemente, ele será transitivo indireto ou será transitivo direto e indireto.

Existem algumas precauções para não se errar na identificação da transitividade?

Quando o sujeito está posposto, é comum confundi-lo com o objeto direto, uma vez que as perguntas para ambos são as mesmas. Para evitar isso, identifique primeiro o sujeito, depois, caso haja, o objeto. Alguns lembretes úteis:

  • o sujeito não pode ser precedido por preposição;
  • o verbo deve concordar com o sujeito;
  • o verbo traz um significado que será atribuído ao sujeito, portanto, tem que haver compatibilidade de sentido entre a atribuição e o sujeito.
  • Apesar de estar após o verbo, a compatibilidade de “limpar” se faz com “os soldados”, que deve ser classificado como sujeito, salvo em caso de narrativa fantástica).
  • colocar a oração na ordem direta torna mais segura a análise.

A seguir, alguns exemplos:

Acabaram para os alunos do fundamental as férias.

  • O que acaba, acaba [verbo intransitivo] ou o que acaba, acaba para alguém [verbo transitivo indireto]
  • O que acabou? As férias – esse termo será o sujeito da oração
  • As férias acabaram para quem? Para os alunos do fundamental – ele será o objeto indireto e o verbo é, portanto, verbo transitivo indireto.
  • Ordem direta: As férias acabaram para os alunos do fundamental.

Sempre mantiveram o serviço em dia os operários desta seção.

  • Quem mantém, mantém algo para alguém.
  • Quem manteve? Os operários – ele será o sujeito da oração.
  • Os operários mantiveram o quê? O serviço – ele será o objeto direto.
  • Os operários mantiveram o serviço para quem? Não há resposta, logo, não há objeto indireto. O verbo é, portanto, verbo transitivo direto.
  • Ordem direta: Os operários desta seção mantiveram o serviço em dia, sempre.

Outra dificuldade é se os objetos forem constituídos por orações:

  • Informei o acidente ao guarda.
  • Informei ao guarda que houve uma acidente.
  • Informei o acidente a quem pode prestar auxílio.
  • Informei que houve uma acidente a quem pode prestar auxílio.

Em todas as frases, o verbo informar foi empregado como transitivo direto e indireto, já que em todas há os dois objetos, ora como substantivo, ora como orações. O artifício da pergunta vale para ambos os casos.

Como estudar verbos transitivos e intransitivos?

Depois de estudada a teoria, é necessário que se façam exercícios, pois a análise é uma técnica que tem que ser treinada. Além dos exercícios que aparecem em materiais didáticos e em provas, pode-se selecionar um texto qualquer e tentar determinar a transitividade de alguns dos verbos presentes nele e, se for o caso, usar um bom dicionário como auxílio. O dicionário traz não apenas os significados dos verbos, mas também suas possibilidades de transitividade.

Como verbos transitivos e intransitivos costumam ser pedidos em provas e vestibulares?

Podem ser questões diretas em que se exige a identificação da transitividade de um verbo ou dos seus objetos. Veja o exemplo abaixo:

(Unifesp) Leia um excerto do conto “A doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão a seguir.

“Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando.”

Em “Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma”, o termo sublinhado é um verbo:

  • a) de ligação.
  • b) transitivo direto e indireto.
  • c) transitivo direto.
  • d) intransitivo.
  • e) transitivo indireto.

Resposta: alternativa D. Na frase de paradigma, dizemos “quem aparece, aparece”, não há complemento e, portanto, ele seria intransitivo. É preciso verificar se na frase de fato não há nada que funcione como complemento. E de fato não há, “não” e “de frente” e “de corpo inteiro” são adjuntos adverbiais de negação e de modo.

A percepção da transitividade também pode ser pedida indiretamente, por meio de assuntos correlatos, como no exemplo abaixo em que a regência do relativo “que” depende do verbo que o rege.

(Unific) Os encargos ……. nos obrigaram são aqueles ……. o diretor se referia.

  • a) de que – que
  • b) a cujos – cujos
  • c) por que – que
  • d) cujos – cujo
  • e) a que – a que

Resposta: alternativa E. O relativo “que” introduz uma oração e representa nela o termo que o antecede. Ele será preposicionado de acordo com o termo que o rege. No caso, os dois verbos regentes pedem a preposição “a”.

Quem obriga, obriga alguém a algo – verbo transitivo direto e indireto. Obrigaram-nos aos encargos. Quem se refere, se refere a algo – verbo intransitivo. O diretor se referia àqueles encargos.

Portanto, os encargos (a que nos obrigaram) são aqueles (a que o diretor se referia). O primeiro “que” retoma o termo encargo e funciona como objeto indireto do verbo obrigar, por isso vem precedido pela preposição “a”. Já o segundo “que” retoma o termo “aqueles” e funciona como objeto indireto do verbo referir-se, por isso vem precedido pela preposição “a”.

Quer saber mais sobre verbos transitivos e intransitivos e outros assuntos que costumam ser pedidos no Enem e vestibulares? Então conheça o Sistema Anglo de Ensino, que há mais de 70 anos faz parte da vida de gerações e gerações de estudantes, combinando, pioneirismo, tradição e inovação. Experimente o sistema que tem mais aprovações nas melhores universidades do país!

Veja também:

Confira estratégias eficazes para melhorar o desempenho acadêmico

Como escolher o melhor cursinho?

Como utilizar a IA para criar um cronograma de estudo?

banner de captação

Voltar