Essas competências socioemocionais podem ser trabalhadas ao longo da vida por meio de dedicação, esforço e orientação adequada 

Vários estudos já mostraram que mais da metade dos jovens atualmente na Educação Básica podem vir a trabalhar em profissões que ainda não existem. Nesse contexto, os estudantes terão que aprender a se reinventarem ao longo da vida. Para esse processo de “lifelong learning”, duas habilidades fundamentais são a resiliência e a autoconfiança

Resiliência 

De acordo com Eduardo Calbucci, professor e autor do Sistema Anglo de Ensino, a resiliência é chamada, de maneira mais técnica, de uma competência socioemocional complexa. “Isso porque ela nasce da combinação de outras competências socioemocionais simples, como a persistência”, comenta. 

O termo ‘resiliente’ foi emprestado da física, devido à propriedade que alguns materiais têm de voltar ao seu estado inicial depois de uma deformação. “Quando pensamos, por exemplo, na vara de um saltador no atletismo, ela enverga no momento da subida e depois volta ao seu estado inicial. É o que acontece também com uma mola”, exemplifica. 

Assim, o termo passou a designar, no universo da Psicologia, a capacidade dos seres humanos de aprenderem com os erros e de não desistirem diante dessas dificuldades. “Por isso que a resiliência tem um componente muito importante de persistência”, diz o professor. 

Além disso, continua ele, “para não desistirmos das coisas, precisamos saber lidar com as emoções desagradáveis, como a tristeza, a raiva, o medo e a frustração, por não ter conseguido atingir algo”. 

Outra competência socioemocional importante nesse contexto é a imaginação criativa, o que diferencia a resiliência da teimosia. Uma pessoa teimosa não desiste, logo, tem uma certa persistência, mas também faz as coisas sempre do mesmo jeito. Já quem é resiliente aprende com os próprios erros e encontra novos caminhos, o que envolve alguma forma de criatividade. 

“Como qualquer outra competência socioemocional, a resiliência pode ser desenvolvida ao longo da vida”, afirma Calbucci. “É claro que existem algumas pessoas que têm mais facilidade, mas não se trata de algo inato. E quando desenvolvemos a resiliência, também nos tornamos mais autoconfiantes”. 

Autoconfiança 

O autor do Sistema Anglo ressalta que a autoconfiança não pode ser confundida com soberba ou falta de modéstia e humildade. “Ser autoconfiante é conhecer os próprios limites. E isso é estimulado pela resiliência.” 

Calbucci diz que algumas condições precisam estar presentes no desenvolvimento dessa habilidade. São elas:

  1. Tempo. Só é possível conhecer um limite ao dedicar tempo a determinada atividade. Por exemplo, se alguém desiste de estudar mandarim depois de apenas um mês de aula, essa pessoa ainda não disponibilizou tempo suficiente para o aprendizado.
  2. Esforço. Sem esforço, não existe desenvolvimento de competência.
  3. Orientação adequada. Sem pedir ajuda ou sem ter pessoas como apoio e estímulo, não há como conhecer os próprios limites. 

É a partir da terceira condição que os pais e professores podem ajudar. “Mostrando, justamente, para as crianças e adolescentes, que nem sempre é possível conseguir as coisas de maneira tão rápida. Mas com tempo, esforço e orientação, há mais chances de chegar lá”. 

Esse pensamento deve ser inserido no cotidiano dos pequenos. “Não é fazer algo pelos filhos ou pelos alunos — é ensiná-los a fazer. É estimular e mostrar que o erro faz parte desse processo. O erro tem uma função didática muito importante,” finaliza o professor.